segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Histórias do Mato


Lançamento Virtual do Livro Histórias do Mato

O livro "Histórias do Mato: memórias de moradores de um bairro rural" já está disponível para download gratuito no blog do projeto.

Release projeto Histórias do Mato


O projeto “Histórias do Mato” foi concebido considerando o contexto histórico-social da Região Bragantina, que é de significativas transformações, visando valorizar a identidade caipira a partir das memórias orais e imagéticas dos moradores de áreas rurais de Bragança Paulista/SP, bem como compartilhar suas lembranças sobre os acontecimentos, épocas e momentos que marcaram a história de suas vidas, do bairro e que contribuíram para a formação da sociedade paulista e brasileira.

Este projeto foi realizado com o apoio do Governo do Estado de São Paulo, Secretaria de Estado da Cultura - Programa de Ação Cultural – 2009, e recolheu belas histórias e imagens através da memória de moradores do bairro Boa Vista que revelaram um intenso e fascinante movimento da cultura caipira e resultou na produção do livro Histórias do Mato: memórias de moradores de um bairro rural, de autoria de Jussara Christina Reis, em dois formatos: digital e impresso. A distribuição dos exemplares beneficiará instituições educacionais e culturais de Bragança Paulista e demais municípios da Região Bragantina, já a versão digital estará disponibilizada para download gratuito no blog do projeto.

Outro produto oferecido à população, de forma gratuita, foram as oficinas culturais Memória e Bairro Rural que ocorreram nos dias 06 e 13 de dezembro de 2010 em Bragança Paulista-SP.

Sinopse História do Mato: memórias de moradores de um bairro rural

Histórias do Mato é uma (re)descoberta da poética das narrativas orais e dos álbuns de família, em que as memórias de moradores nascidos e criados num bairro, um lugar, se entrelaçam com a história local e regional.
Autoria: Jussara Christina Reis
Colaboração: Fábio Bueno de Lima
Ilustrações: Elinaldo Meira

Blog do Projeto - AQUI

Download do livro: a partir do dia 15/12/2010

Jussara e Fábio
Jatobá Produções Culturais

Recebido de Conceição Reis, a quem agradecemos.
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segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Campanha Autoestima Racial - RS

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Campanha Autoestima Racial
Rede Afrogaucha de Profissionais do Direito e TV Record

Campanha Autoestima Racial
Rede Afrogaucha de Profissionais do Direito e TV Record

Campanha Autoestima Racial
Rede Afrogaucha de Profissionais do Direito e TV Record

Campanha Autoestima Racial
Rede Afrogaucha de Profissionais do Direito e TV Record

Campanha Autoestima Racial
Rede Afrogaucha de Profissionais do Direito e TV Record

Campanha Autoestima Racial
Rede Afrogaucha de Profissionais do Direito e TV Record

Campanha Autoestima Racial
Rede Afrogaucha de Profissionais do Direito e TV Record

sábado, 2 de outubro de 2010

Quilombolas SP - Plataforma Política 2010

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Plataforma Política dos Quilombolas do Estado de São Paulo – Eleições 2010

A defesa dos direitos dos quilombolas deve ser uma prioridade do novo governo estadual e dos parlamentares eleitos por São Paulo

As comunidades de quilombos têm a satisfação de apresentar a Plataforma Política dos Quilombolas do Estado de São Paulo aos candidatos ao governo estadual. Esta plataforma é produto do Ato em Defesa dos Quilombos no Estado de São Paulo realizado no dia 12 de setembro de 2010, em São Bernardo do Campo/SP, sob a organização da Coordenação Estadual de Quilombos e da Comissão de Justiça e Paz de São Paulo, e com os apoios da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ), Central Única dos Trabalhadores (CUT), Confederação Nacional dos Metalúrgicos (CNM-CUT), Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (CONTRAF-CUT) e do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC (SMABC).

O marco das políticas de quilombos no Brasil é a Constituição Federal de 1988, a qual estabelece claramente que aos “remanescentes das comunidades de quilombos que estejam ocupando as suas terras é reconhecida a propriedade definitiva, devendo o Estado emitir-lhes os respectivos títulos”. (Art. 68)

A partir deste marco, ocorreram inegáveis avanços no plano legal, tanto a nível nacional como local. O grande destaque cabe ao Decreto 4.887/03, seguido da formulação do Programa Brasil Quilombola e da criação da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR), bem como do reforço das instituições que cuidam da questão quilombola. Vereadores, Deputados Estaduais e Federais e Senadores vêm também se destacando nas lutas em favor das comunidades quilombolas.

No entanto, as comunidades quilombolas estão ainda muito longe de receber a prioridade devida nos embates políticos, na aplicação dos programas acordados, na regularização de suas terras, na valorização do seu papel na conservação do meio ambiente, na melhoria de suas condições de vida e na preservação de sua cultura.

Como conseqüência, as políticas públicas de fomento avançam muito lentamente, não abarcam todas as comunidades e apresentam um nível de realização muito baixo. O nível de articulação entre o Instituto de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) e o Instituto de Terras de São Paulo (ITESP) é insuficiente, os processos emperram e, em meio a pretextos e acusações recíprocas, é o Estado quem deixa de assumir a sua responsabilidade.

Dentro da ordem federativa, são poucas as Prefeituras e os Governos Estaduais que reconhecem os direitos das comunidades quilombolas, a maioria se posicionando na prática em favor de interesses econômicos e políticos locais, enquanto que o Ministério Público parece mais preocupado com as questões ambientais que com as comunidades tradicionais que habitam há muito tempo em terras que mais tarde se tornaram áreas de conservação ambiental, particularmente no Estado de São Paulo.

Contudo, nós quilombolas acreditamos que os problemas atuais poderão ser superados com uma ação mais decisiva do novo Governo do Estado de São Paulo e dos parlamentares eleitos pelo povo de São Paulo, em parceria com os governos municipais e, sobretudo, com o Governo Federal.

Esperamos também desenvolver uma relação mais intensa e continuada da Coordenação Estadual de Comunidades de Quilombo, em diálogo e processos de formulação conjunta com a Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ). Estas são as legítimas representantes da organização dos quilombolas, perante o grande arco de entidades e instituições parceiras com as quais se relacionam os quilombolas do Estado de São Paulo.


Neste contexto, submetemos à consideração dos candidatos as propostas a seguir enunciadas.

1. Elaborar, com a participação das comunidades, uma política pública para as comunidades quilombolas, bem como um programa governamental multisetorial específico, dotado de recursos financeiros e humanos adequados. Para assegurar a sustentabilidade da ação governamental, esta deverá estar amparada em lei e dispor de uma estrutura institucional dotada de recursos humanos e financeiros para a sua consecução.

2. Tomar posição contra as iniciativas que representem um retrocesso na materialização dos direitos dos quilombolas, em particular contra a Ação Direta de Inconstitucionalidades nº 3239, proposta pelo PFL, atualmente DEM, relativa ao Decreto 4.887/03 e, ao mesmo tempo, favorecer a construção de um marco legal que confira segurança jurídica às conquistas quilombolas.

3. Apoiar a adoção de metas compartilhadas para a titulação das terras quilombolas, com a definição clara de responsabilidades ao nível dos entes federados e seus órgãos competentes na área, como o ITESP e o INCRA.

4. Dotar o ITESP de melhores condições técnicas e financeiras e de diretrizes claras no sentido do cumprimento pleno dos processos da regularização fundiária das comunidades quilombolas, assegurando a desintrusão das terras após sua titulação, com vista à obtenção do registro definitivo.

5. Assegurar a participação das comunidades quilombolas nas instâncias de governo e órgãos encarregados da execução das políticas quilombolas, especialmente no planejamento e acompanhamento das atividades que lhes digam respeito.

6. Priorizar os quilombolas nos programas de alfabetização e no acesso à educação fundamental, estabelecendo metas nos programas de governo.

7. Promover a inclusão dos quilombolas nos programas sociais do governo e no usufruto de seus benefícios.

8. Priorizar os quilombolas nas campanhas de vacinação massiva e no atendimento pelo Programa de Saúde da Família e outros programas e serviços governamentais de saúde.

9. Contribuir para a implantação de um modelo operacional de conservação ambiental, integrando unidades de uso sustentável em terras quilombolas e a prestação de serviços ambientais por suas comunidades.

10. Defender o enquadramento das comunidades quilombolas na legislação internacional que protege os povos indígenas, em particular a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho.

11. Apoiar a constituição e o reforço de Comissões e Frentes Parlamentares atuantes na luta pelos direitos dos quilombolas.

Coordenação Estadual das Comunidades de Quilombo
12/9/2010

Recebido de Matilde Ribeiro

A Conen e as eleições de 2010

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A Coordenação Nacional de Entidades Negras (Conen) e as eleições de 2010

As desigualdades sociorraciais no Brasil

No Brasil republicano do século 21 existe igualdade apenas no papel da Lei. Não há efetivamente igualdade de condição e de oportunidades. A República brasileira não emancipou socialmente milhões de homens e mulheres negros saídos do escravagismo. Do ponto de vista constitucional, não temos discriminação. Pela Constituição Federal “todos são iguais perante a lei, independente de sexo, raça, credo, orientação sexual, origem social”.

No entanto, a desigualdade entre negros e brancos se mantém: 64% dos pobres e 70% dos indigentes brasileiros são negros. A discriminação racial e o preconceito ampliam as desigualdades sociais porque são reforçados pelo racismo, pelo machismo e a homofobia.

No caso das mulheres negras, a discriminação de gênero, raça e classe social revela que as mulheres negras são submetidas a trabalhos domésticos precários, baixa remuneração, violência e abuso sexual, e o abandono que as obriga a assumirem o sustento de suas famílias.

A juventude negra é vítima de um conjunto de desigualdades que combina um sistema educacional de baixa qualidade, desemprego, falta de perspectivas de uma vida digna, tráfico de drogas e armas, inexistência de lazer, cultura e esporte, confinamento nos morros, favelas e periferias, tornando esses jovens os principais alvos da violência urbana.

Essa situação injusta e cruel é produto da história do capitalismo combinado com a escravidão que durou quatro séculos no Brasil, deixou marcas profundas em nosso convívio social, mas é também resultado da ausência de políticas públicas voltadas para superá-la.

Nos últimos trinta anos, as conquistas da população negra, para resistir a essa realidade perversa, quer seja no campo jurídico-legislativo, seja na área social e as de caráter simbólico, ajudaram o Brasil a compreender que o racismo existe e que a promoção da igualdade é fundamental para seguir mudando a vida de metade da população brasileira. (Ver IBGE - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD) 2009 - 6,9% (13,3 milhões) de pessoas se declararam pretas e 44,2% (84,7 milhões) se declararam pardas).

A luta do Movimento Negro tem garantido mudanças na vida da população negra. É através desta luta que os governos, de caráter democrático e popular, dos municípios, dos estados e no governo federal, têm respondido as nossas reivindicações históricas e diante do grave quadro de desigualdades socioeconômicas, em razão das diferenças raciais, implementam políticas para a superação do racismo e para a erradicação da pobreza em nosso país.

Nos últimos anos, o crescimento do emprego formal, o aumento real do salário mínimo e as políticas de transferência de renda, por meio de programas como a Bolsa Família, que beneficiam de forma direta a população negra e pobre, ajudaram a reduzir a desigualdade. Entretanto, mesmo valorizando nossos avanços e conquistas, a Conen compreende que o Brasil continua sendo um país injusto, onde as desigualdades sociorraciais continuam imensas.

É inaceitável o distanciamento dos grupos raciais que vivenciam discriminações históricas. Os indicadores sociais revelam que é no acesso a bens e serviços públicos que reside uma das principais causas das desigualdades no país.

É a partir desta leitura sobre o Brasil e da condição de vida de seus cidadãos e cidadãs, que a Conen vem a público apresentar o seu posicionamento em relação a qual é o programa de governo e a plataforma eleitoral nas eleições de 2010 para a Presidência da República, senadores, deputados federais, governos e deputados estaduais, capazes de fortalecer ações sociais e institucionais para a população negra.

O protagonismo da Conen no combate ao racismo e na promoção da igualdade racial

Na década de 1990 ocorreu o desenvolvimento do protagonismo das organizações negras na luta contra o racismo, na denúncia das práticas discriminatórias e todas as formas de preconceitos. Cada uma das organizações do Movimento Negro brasileiro que combate o racismo influencia e potencializa indivíduos e instituições a rever as desigualdades das relações raciais brasileiras no plano individual, institucional, cultural e político.

Com esta estratégia avoluma-se o diagnóstico que evidencia a desigualdade e a violência contra negros e negras na educação, saúde, mercado de trabalho, segurança pública, lazer, relações de gênero, práticas religiosas, genocídio da juventude e a questão fundiária enfrentada por quilombolas e comunidades negras rurais.

O início da década de 1990 marca o fortalecimento da articulação dessas organizações que buscam a unidade de ação. Nasce a Coordenação Nacional de Entidades Negras (Conen), durante o I Encontro Nacional de Entidades Negras (Enen) realizado em São Paulo, em novembro de 1991. A Conen representou a articulação das novas forças atuantes de um setor do Movimento Negro brasileiro e orientou a luta política contra o racismo de forma mais precisa e planejada.

Neste sentido, os períodos eleitorais passaram a ser uma preocupação constante para a Conen. Mantendo a autonomia e o caráter suprapartidário da participação política das organizações negras, a Conen tem se posicionado nesses momentos por entender que neles estão em disputa programas de governo e projetos políticos que têm relação com a luta do Movimento Negro por um Brasil sem racismo, machismo, preconceito e discriminação de qualquer natureza.

Em 2002, a Conen explicitou seu apoio ao candidato Luiz Inácio Lula da Silva, entre os vários candidatos que naquele momento se apresentavam como oposição ao candidato José Serra, apoiado pelo então presidente da República Fernando Henrique Cardoso.

Após a vitória eleitoral do Presidente Lula, a Conen foi o principal elo de interlocução entre as reivindicações do Movimento Negro e o governo eleito. Uma das primeiras medidas do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi sancionar a Lei 10.639 que torna obrigatório o ensino da história e cultura afro-brasileira nas escolas de ensino fundamental e médio de todo o país.

Em 21 de março de 2003 foi criada a Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), um anseio histórico do Movimento Negro brasileiro, visando à construção de uma efetiva política de governo para o combate ao racismo e promoção da igualdade racial.

A Conen apoiou a criação dessa secretaria e contribuiu desde o período de transição para que ela fosse concretizada. Apoiou, também, a indicação de Matilde Ribeiro para a sua direção e lideranças da Conen, com suas qualidades técnicas e políticas, fizeram parte do governo, contribuindo para que a Seppir pudesse se estruturar para concretizar seus objetivos.

A representação da população negra nos espaços de decisão do governo federal é ampliada com a presença da ministra Benedita da Silva no Ministério da Assistência Social; da ministra Marina Silva no Ministério do Meio Ambiente; do ministro Gilberto Gil no Ministério da Cultura; do ministro Orlando Silva Jr. no Ministério do Esporte; com a indicação do Dr. Joaquim Barbosa para o Supremo Tribunal Federal (STF).

A escolha das lideranças femininas foi o reconhecimento do protagonismo da mulher negra nas lutas sociais: Matilde Ribeiro dedicada às questões do racismo e sexismo, Marina Silva com a questão ambiental e Benedita da Silva dedicada ao movimento social urbano representam a luta pelo empoderamento da mulher negra.

Na disputa eleitoral seguinte a Conen não hesita em novamente expressar seu apoio à reeleição de Luiz Inácio Lula da Silva para a Presidência da República.

O apoio significou impedirmos o retorno das elites conservadoras à Presidência da República, através do candidato que as representou naquela eleição, Geraldo Alckmin, apoiado pela Coligação Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) e Partido da Frente Liberal (PFL).

A Conen optou pela continuidade da luta por mudanças estruturais na vida da população negra, avaliando as ações do primeiro governo do Presidente Lula, reconhecendo que as mesmas contribuíram para avançar nas políticas públicas de enfrentamento do grave quadro de desigualdades sociorraciais no Brasil.

As eleições 2010 e as novidades do ponto de vista de gênero e raça

Há séculos que a população não branca nas Américas enfrenta o racismo, o colonialismo e a política patriarcal. Junto com o Brasil, que tem a maior população negra fora da África, a América Latina possui uma população negra próxima de 150 milhões de pessoas e de cerca de 40 milhões de indígenas.

No século 21, a América tem inovado na democracia política exatamente porque elegeu dirigentes fora do status quo da elite que sempre apresentou candidatos burgueses, do sexo masculino e brancos. O Brasil elegeu democraticamente um metalúrgico, a Bolívia um índio, a Argentina e o Chile duas mulheres, e a Venezuela e o Equador elegeram dirigentes oriundos dos setores populares e dos trabalhadores, para o mais expressivo cargo de direção de seus respectivos países, a Presidência da República.

É importante uma avaliação do processo em curso, pois, historicamente, os eleitos estão à frente de governos reconhecidamente progressistas, o que tem influído nas transformações em curso na América Latina. É importante lembrar que os Estados Unidos elegeram um negro para Presidente, naquele país marcado pela segregação racial e confronto entre negros e brancos.

O impacto no cenário eleitoral é o aumento da expressão da luta de afirmação da identidade de gênero e raça na vida das populações desses países. Para além da importância do simbolismo que esses fatos indicam para o mundo, a chegada ao governo de representação oriunda das classes populares e dos movimentos sociais é uma novidade eleitoral, que impõe o direito à diferença na vida política.

No Brasil, essa questão tem implicações significativas no processo eleitoral de 2010, na medida em que a nossa realidade social contém condicionantes históricos e estruturais como a pobreza, o racismo, o machismo. Pois, permanece ainda o desafio de ampliar o acesso dos setores que eles representam (trabalhadores, mulheres, negros, indígenas e todos os discriminados) de modo que as políticas públicas contribuam, também, para democratizar as relações econômicas e sociais.

A compreensão de tal realidade tem pressionado por mudança no pensamento dos setores democráticos, progressistas e de esquerda cuja concepção baseada apenas nas contradições econômicas passa a incorporar, mesmo que tardiamente, as lutas pelo direito à diferença e pela afirmação das identidades de gênero e raça.

No Brasil, a pressão dos ativistas do combate ao racismo e feministas no interior dos partidos políticos busca ampliar a representação de negros e mulheres. Avança a compreensão de que a opressão de classe não é suficiente para combater as contradições advindas das relações desiguais de raça e gênero.

O reflexo dessa mudança pode ser visto nas eleições de 2010, que apresentam ao eleitorado brasileiro a candidatura de duas mulheres, Dilma Rousseff, candidata pelo Partido dos Trabalhadores (PT); Marina Silva, uma mulher negra, da Amazônia, do estado do Acre, candidata a Presidência da República pelo Partido Verde (PV); Hamilton Assis, um negro do estado da Bahia, membro da Coordenação Nacional do Círculo Palmarino, entidade do Movimento Negro, candidato a vice-presidente pelo Partido Socialismo e Liberdade (PSOL).

Os projetos em disputa

Tanto em 2002 quanto em 2006 eram dois os principais candidatos. De um lado, José Serra e Geraldo Alckmin, ambos apoiados pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que em seus oito anos de governo deu continuidade à aplicação do projeto neoliberal em nosso país e aprofundou as marcas sociais do racismo brasileiro.

De outro, Luiz Inácio Lula da Silva, que aglutina as forças sociais que querem mudanças reais nesse país e que apresenta um programa “Brasil sem Racismo”, que considera a questão racial um dos grandes impasses nacionais a serem solucionados para a construção de um Brasil democrático, justo e igualitário.

Em 2010, duas candidaturas polarizam a disputa. A candidata Dilma Rousseff, apoiada pelo Presidente Lula e por praticamente o conjunto das organizações do movimento social brasileiro, que pretende dar continuidade às mudanças em curso no país nos oito anos de governo Lula, que reverteu a lógica neoliberal de governos anteriores, ao dinamizar a economia e ao mesmo tempo, distribuir renda, reduzir as desigualdades e gerar oportunidades.

Em oposição a tudo isso surge novamente José Serra, candidato do PSDB e do Partido dos Democratas (DEM), o partido que é um dos maiores adversários do Movimento Negro e dos interesses da população negra em nosso país, representando os interesses da burguesia industrial e financeira, das elites conservadoras do campo e da cidade.

A posição da Conen

Nas eleições de 2010, o que está em disputa é a possibilidade de continuarmos o que começamos com o governo de Luiz Inácio Lula da Silva, de conquistarmos a reforma agrária, proporcionar renda aos mais pobres por meio de políticas sociais, democratizar o acesso ao conhecimento e a informação, de diminuirmos as desigualdades raciais e as disparidades sociais e reduzir a imensa dívida histórica e social que a sociedade e o Estado têm para com a população negra no Brasil.

A Conen se coloca ao lado daqueles que nestas eleições apóiam Dilma Rousseff com o objetivo de continuarmos a promover a inclusão social e a redução das desigualdades, fortalecer a democracia, garantir modelo de desenvolvimento sustentável para o país com igualdade de gênero, raça e etnia.

Consolidar as mudanças dos últimos anos, ampliar as conquistas e impedir qualquer retrocesso na afirmação de direitos sociais, culturais, políticos e econômicos da população negra é o que pretende a Conen com esse posicionamento.

Para avançarmos em direção a conquistas não alcançadas durante os governos do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a Conen, após a eleição de Dilma Rousseff como a primeira mulher presidente da República, já se coloca, como o fez nos governos anteriores, junto ao futuro governo, para iniciarmos um diálogo sobre as perspectivas de qual desenvolvimento queremos para o Brasil.

Para a Conen, se quisermos reduzir, de fato, os impactos negativos das desigualdades raciais existentes na sociedade brasileira, devemos pensar uma nova agenda de desenvolvimento econômico, político e institucional para o país que combata o racismo e promova a igualdade racial.

Para a Conen, o caminho para um Brasil sem racismo, com desenvolvimento e promoção da igualdade racial passa pela transformação da política pública em política de Estado. A implementação dessa política deve ser focada nas regiões metropolitanas; na redução da violência urbana e equacionamento da segurança pública; no acesso à educação; na geração de emprego; no acesso aos padrões dignos de habitabilidade; na geração de expectativas para a juventude negra; na melhoria da qualidade de vida das comunidades quilombolas e rurais, das mulheres e das crianças negras.

Brasil, setembro de 2010.

Recebido de Gevanilda Santos

sábado, 25 de setembro de 2010

Cartilha alerta sobre trabalho escravo

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Brasil é referência mundial no combate ao trabalho escravo
Ministério do Trabalho e do Emprego lança cartilha sobre trabalho escravo

Muitos de nós aprendemos na escola que o trabalho escravo foi encerrado com a proclamação da Lei Áurea. Mas infelizmente a realidade não é bem essa.

Hoje não temos mais aqueles troncos e correntes que prendiam os escravos. O que temos são relações de trabalho onde o empregador trata seus funcionários em condições semelhantes à escravidão.

Por exemplo, quando empregador submete o trabalhador a trabalhos forçados, ou a uma jornada exaustiva e mesmo a condições degradantes de trabalho, sem higiene ou proteção.

Outro caso é quando o empregador restringe a locomoção do trabalhador em razão de dívida para com empregador ou preposto. Ou seja, simplesmente mantém os trabalhadores presos na fazenda sob a alegação de que não podem sair enquanto não quitarem suas dívidas.

Esse tema é dos mais importantes, pois atinge não apenas cidadãos brasileiros nas regiões mais remotas do país. Ultimamente têm sido descobertos casos do chamado “trabalho degradante” em estados ricos das regiões Sudeste e Sul. E por isso, resolvemos colocar à disposição de todos os visitantes do nosso portal a cartilha sobre trabalho escravo recém-lançada pelo Ministério do Trabalho e Emprego.

Na cartilha, além de informações sobre o trabalho escravo no mundo moderno, os cidadãos aprendem sobre o que é trabalho degradante, quais as ações de combate que governo, instituições do Estado e ONGs estão realizando, e o que é o Plano Nacional para Erradicação do Trabalho Escravo.

Clique aqui para baixar e conhcer a cartilha “Trabalho Escravo”, do Ministério do Trabalho e do Emprego

10/9/2010

Extraído de A Voz do Cidadão




quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Estado deve fornecer suplemento à família carente

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Estado deve fornecer suplemento à família carente

15.09.2010 - 10h56

A saúde é direito assegurado a todos os cidadãos, indissociável do direito à vida, cuja proteção deve prevalecer em relação a qualquer outro interesse do Estado. Do contrário, os demais não possuiriam razão de ser. A observação foi realizada pela Sexta Câmara Cível do Tribunal de Justiça de Mato Grosso, que retificou, em parte, sentença de Primeiro Grau, em conformidade com o artigo 196 da Constituição Federal. Consta dos autos que um menor de família hipossuficiente necessitava de suplementação alimentar. A câmara julgadora considerou a indispensabilidade do fornecimento do produto, não obstante, determinou que a cada seis meses fosse apresentada recomendação médica pela manutenção do tratamento.

A Primeira Vara Especializada da Infância e Juventude da Capital, nos autos de uma ação civil pública, julgara procedente o pedido inicial para condenar o requerido a fornecer 20 latas mensais do suplemento alimentar “neocate” ao menor. O recorrente sustentou que, embora o Estado tenha o dever de prestar assistência à saúde, deve proceder de forma ordenada e organizada, respeitando as políticas traçadas, sob pena de os atendimentos indiscriminados colocarem em perigo a vida de demais dependentes do SUS, bem como de haver desequilíbrio econômico-financeiro. Afirmou que os municípios estão habilitados na gestão plena da saúde, sendo eles os responsáveis pelos usuários residentes dentro de sua circunscrição; que as despesas públicas só poderiam ser realizadas com planejamento; e que a disponibilização de recurso sem prévia autorização normativa afrontaria o artigo 167, II, da CF.

O relator, desembargador Rubens de Oliveira Santos Filho, ressaltou que a saúde é direito social assegurado a todos os cidadãos e corolário indissociável do direito à vida, competindo ao Estado, por meio de políticas sociais e econômicas, reduzir o risco de doenças e garantir acesso universal às ações e serviços de saúde, nos termos do artigo 196 da CF. Ressaltou a necessidade de resguardar a dignidade da pessoa humana e a proteção do direito à vida, que se desdobra na preservação da saúde, constituindo obrigação primordial do ente público.

O magistrado informou que o menor apresenta, desde o nascimento, refluxo gástrico, pneumonias, diarréia crônica, dores abdominais, má absorção intestinal, desnutrição e atraso do desenvolvimento neuropsicomotor. Assim, foi recomendado o uso de 20 latas mensais do suplemento alimentar, que possui nutrientes indispensáveis para complementar a alimentação e aumentar o peso do menor, conforme laudo médico. Ponderou ainda o relator que a família da criança não tem condições de pagar essa despesa sem prejuízo de seu sustento próprio. Contudo, fixou prazo para que os responsáveis pelo menor comprovassem a necessidade da continuidade da suplementação, sendo que a cada seis meses devem apresentar novo receituário médico.

Quanto à alegação de que caberia ao município o fornecimento do produto, assinalou o relator que todos os entes que compõem a organização federativa (União, Estados, Distrito Federal e Municípios) respondem solidariamente pela promoção da saúde e a assistência pública, de forma que qualquer um deles pode ser acionado em demanda que vise a sua obtenção. Acompanharam o voto do relator os desembargadores Juracy Persiani, revisor, e Guiomar Teodoro Borges, vogal.

Fonte: TJMT

Extraído de: Lion & Advogados Associados




quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Lei proíbe empresas de exigir teste de HIV

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Lei proíbe empresas de exigir teste de HIV dos funcionários

O Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) baixou a portaria nº 1.246/2010, que proíbe que as empresas do Brasil exijam de seus funcionários o teste de HIV em exames médicos admissionais e demissionais, avaliações periódicas ou em decorrência de mudanças de cargo do trabalhador, de forma direta ou indireta.


O MINISTRO DO TRABALHO E EMPREGO, no uso das atribuições que lhe confere o inciso II do Parágrafo único do art. 87 da Constituição Federal;

Considerando que a Convenção da Organização Internacional do Trabalho - OIT nº 111, promulgada pelo Decreto nº 62.150, de 19 de janeiro de 1968, proibe todo tipo de discriminação no emprego ou profissão;

Considerando que a Lei nº 9.029, de 13 de abril de 1995, proibe a adoção de qualquer prática discriminatória e limitativa para efeito de acesso à relação de emprego ou a sua manutenção;

Considerando o previsto na ação programática constante do item j do Objetivo Estratégico VI do Eixo Orientador III do Programa Nacional de Direitos Humanos, aprovado pelo Decreto nº 7.037, de 22 de dezembro de 2009;

Considerando que a Portaria Interministerial nº 869, de 12 de agosto de 1992, proibe, no âmbito do Serviço Público Federal, a exigência de teste para detecção do vírus de imunodeficiência adquirida - HIV, tanto nos exames pré-admissionais quanto nos exames periódicos de saúde; e

Considerando que a Resolução nº 1.665 do Conselho Federal de Medicina, de 7 de maio de 2003, veda a realização compulsória de sorologia para o - HIV, resolve:

Art.1º Orientar as empresas e os trabalhadores em relação à testagem relacionada ao vírus da imunodeficiência adquirida - HIV.

Art. 2º Não será permitida, de forma direta ou indireta, nos exames médicos por ocasião da admissão, mudança de função, avaliação periódica, retorno, demissão ou outros ligados à relação de emprego, a testagem do trabalhador quanto ao HIV.

Parágrafo único. O disposto no caput deste artigo não obsta que campanhas ou programas de prevenção da saúde estimulem os trabalhadores a conhecer seu estado sorológico quanto ao HIV por meio de orientações e exames comprovadamente voluntários, sem vínculo com a relação de trabalho e sempre resguardada a privacidade quanto ao conhecimento dos resultados.

Art. 3º Esta Portaria entra em vigor na data de sua publicação.

CARLOS ROBERTO LUPI

D.O.U., 31/05/2010 - Seção 1
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segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Anemia Falciforme: diagnóstico tardio provocou morte

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Adiante, reportagem que noticia a morte de mais uma criança de 9 meses de vida com anemia falciforme.

O fato lembrou-me de uma vez que eu estava em um congresso, onde uma médica apresentou os resultados uma pesquisa sobre a morte de crianças com anemia falciforme. Ela acompanhou as mães e os seus relatos sobre como tudo se deu.

Após a sua explanação, solicitei a fala e lhe disse:

"Não vi onde anemia falciforme matou estas crianças. Vi negligência, incompetência, falta de estrutura, racismo."

As pessoas com anemia falciforme no Brasil ainda morrem, não pela doença em si. Morrem pelo descaso que o poder público tem com elas. A doença genética de maior incidência no Brasil com cerca de 3.500 casos todos os anos, ou seja 35 crianças nascendo todos os dias é tratada como uma coisa qualquer, mais uma doença.

E neste ano que estamos informando a todo Brasil que há um século atrás, em 1910, se deu o primeiro relato cientifico da doença fica para todos e todas esta reflexão de como o racismo continua e continuará a operar dentro dos sistemas onde o diagnóstico de um resultado de um caso com anemia falciforme passa-se por fax e se receberem, receberam. Se não receberam.... que importa? A quem importa se nossos filhos nascem com esta doença crônica? Pelo visto somente a nós mesmos pessoas com doença falciforme e seus familiares.

Por aquilo que o poder público apresenta nos seminários e congressos não se expressa nos atos e atitudes.

O descaso para as pessoas com anemia falciforme é marco e é marca no Brasil ainda hoje.

Nós não lamentaremos simplesmente as mortes das pessoas com anemia falciforme, nós confrontaremos os responsáveis pela saúde com os familiares destas pessoas pessoas para que eles digam porque não fizeram NADA! Eles terão que responder.

Altair Lira
Coordenador Geral
FENAFAL


Diagnóstico tardio

Mãe afirma que falha provocou morte da filha

Enviado por Matheus Vieira - 19.8.2010 - 7h30m

Cátia conta que não sabia que a filha tinha anemia falciforme

O resultado de um teste do pezinho que chegou tardiamente às mãos dos médicos encurtou a vida da pequena Sophia Sarah, de apenas 9 meses. A menina morreu de anemia falciforme no último dia 9 de agosto. A amostra foi coletada no posto de saúde de Jardim América em dezembro, e analisada pela Apae. A Apae afirma que mandou o resultado para o posto, por fax, ainda em janeiro, quando confirmou a doença. Mas a Secretaria Municipal de Saúde alega que o aparelho de fax do posto está quebrado desde dezembro.


teste de dezembro 2009 - resultado em agosto 2010

Quem sofre de anemia falciforme tem as hemácias — células vermelhas do sangue — deformadas. O tratamento inicial, a base de vacinas, antibióticos e transfusões de sangue, é feito na rede pública através do Hemorio. No entanto, quando o diagnóstico de Sophia chegou, através de uma segunda via, enviada pela Apae, no dia 3 de agosto, ela já estava hospitalizada, passando por uma crise. A menina foi internada em estado grave no dia 23 de julho no Hospital Municipal Souza Aguiar, onde veio a morrer.

O teste do pezinho foi feito no dia 17 de dezembro

O resultado foi entregue ao posto de saúde oito meses depois: no dia 3 de agosto

Segundo o Hemorio, o setor de assistência social da Apae chegou a agendar três consultas para a menina. Mas Cátia não teve conhecimento nem do diagnóstico nem desta recomendação da Apae. O posto deveria intermediar o contato com a família, mas sequer sabia do quadro de saúde de Sophia. A secretaria afirma que a Apae deveria ligar, depois de enviar o fax ao posto, para confirmar o recebimento do documento.

Demora classificada de "normal" no posto

A mãe da pequena Sophia ia todo mês no posto de saúde para verificar se o resultado do exame da filha havia chegado.

— Eles diziam que esta demora era normal — relembra Cátia.

Mãe de outros dois filhos, uma de 18 e outro de 11, ela conta que sempre esteve atenta às necessidades dos filhos.

— Não podia imaginar que minha filha tinha esta doença. Ela era saudável, até o dia em que teve febre e ficou com a pele toda amarelada. A partir daí, ela ficou toda inchada e já era tarde demais... — conta a chefe de limpeza.

Dos profissionais que atenderam a filha, ela ouviu o motivo que selou o destino de Sophia.

— A assistente da Apae me falou que o que houve foi uma falha de comunicação. E o custo disso tudo foi a vida da minha filha — desabafa a mãe da pequena Sophia.

Recebido de: ABADFAL - Ass. Baiana das Pessoas com Doenças Falciformes
Enviada em: quinta-feira, 19 de agosto de 2010 12:33
Assunto: Morte de mais uma criança com anemia falciforme. Até quando por negligência?

Imagem da alteração genética que ocorre no cromossomo 11


BA - comissão vai decidir destino de objetos do Candomblé guardados na polícia

Comissão vai definir destino de peças do candomblé
Mariana Paiva l A TARDE - 19/08/2010

Fernando Amorim/Agência A TARDE
Membros do governo observam as peças que eram exibidas como aberrações no DPT


Representantes do governo reunidos na sede do Departamento de Polícia Técnica (DPT), no Vale dos Barris, na quarta-feira, 18 de agosto, recomendaram a criação de uma comissão para decidir o destino dos objetos do candomblé guardados no local. Em matéria publicada em 18 de julho, A TARDE informou o retorno das peças, que estavam no Museu da Cidade, para o DPT. As peças foram tiradas do DPT por pressão de entidades ligadas ao candomblé, já que no Museu Estácio de Lima, do DPT, eram exibidas juntamente com cabeças humanas e outras aberrações.

No local, o grupo visitou o espaço destinado ao museu, que atualmente está em reforma, e abriga, além das peças, aparelhos de ar-condicionado, cadeiras e colchões empilhados. No acervo ligado à cultura africana, encontram-se imagens e vestimentas de orixás, pratos para oferendas e esculturas, algumas delas dentro de caixas.

Presente na reunião, Ubiratan Castro, presidente da Fundação Pedro Calmon (Secult), sugeriu a criação de uma comissão para identificar e decidir para onde irão as peças. “Queremos que seja mista, com representantes do governo e dos terreiros, porque estes últimos podem identificar, datar e afirmar quais são as características culturais de cada obra”.

Para a secretária estadual de Promoção de Igualdade (Sepromi) Luiza Bairros, a ideia de ter alguém para representar os terreiros de candomblé é de extrema importância para garantir a separação das peças de uso religioso. “Estas terão o destino decidido não pelo Estado, mas pelos terreiros. Não podem ser consideradas peças de museu, é o que nos parece mais respeitoso nesse momento”, afirma.

Destino incerto - De acordo com Lícia Maria Afonso, assessora de Raul Barreto Filho, diretor do DPT, o local está sendo usado para abrigar as peças apenas temporariamente. “As peças estão aqui só enquanto o destino delas é decidido”.

Segundo ela, há cerca de 30 anos, quando Maria Thereza Pacheco ainda dirigia o órgão, o professor Estácio de Lima trazia as peças de suas viagens à África. “Ele gostava de candomblé. Aliás, o terreno onde está construído o prédio do Instituto Médico-Legal Nina Rodrigues foi definido pela necessidade de não se cortar uma árvore, que Mãe Menininha disse ser sagrada”.

Em 1997, uma comissão denunciou a exibição das peças ligadas ao candomblé no Museu Estácio de Lima, cujo acervo era composto prioritariamente de anomalias científicas. Na época, o Ministério Público determinou a ida das peças para o Museu da Cidade, mas uma liminar da Justiça obtida pela ex-diretora do DPT Maria Theresa Pacheco, falecida recentemente, fez com que voltassem para lá.
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Candomblé reconhecido em Portugal

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Religião de Origem Africana torna-se Pessoa Colectiva Religiosa em Portugal

A Comunidade Portuguesa do Candomblé Yorùbá tem o prazer de informar que foi reconhecida como Pessoa Colectiva Religiosa em Portugal, depois de longo processo de avanços e recuos com o Registo Nacional de Pessoas Colectivas e Comissão para a Liberdade Religiosa. A partir deste momento a religião dos Orixás de origem africana Yorùbá, também conhecida por Candomblé, passa a ter estatuto igual às demais religiões, como Judaísmo, Islamismo, Jeovás, vários Cristianismos, etc.

A Comunidade Portuguesa do Candomblé Yorùbá é uma comunidade religiosa que se propõe preservar as tradições culturais e religiosas africanas yorùbás-jejes no território português, representando oficialmente a religião e promovendo cerimónias públicas em louvor das divindades, encetando diálogos institucionais a fim de fomentar o diálogo inter-religioso e o melhor conhecimento de uma tradição religiosa que ascende os dez mil anos, pela participação e organização de colóquios, debates, oficinas e formações.

A Comunidade Portuguesa do Candomblé Yorùbá, projecto institucional, é o resultado de um longo processo histórico que envolve Portugal, África e as Américas, colonização, escravidão, perseguição e descriminação; e agora, preservação, diálogo, promoção e restauro da barbárie através de uma nova memória colectiva. A publicação em Janeiro do presente ano do registo oficial como “pessoa colectiva religiosa” representa um momento único na história. A tradição yorùbá (que no Brasil recebe o nome de Candomblé) passa a ter uma estrutura organizada como pessoa colectiva religiosa, pela primeira em dez mil anos de história, e Portugal é o palco de tão grandioso acontecimento.

A religião dos Orixás, a crença Yorùbá e o Candomblé passam a ter uma Casa Mãe, uma organização representativa, uma casa directora e sede do poder religioso em Portugal.

Comunidade Portuguesa do Candomblé Yorùbá
Pessoa Colectiva Religiosa
NIPC 592009190
Herdade da Sesmaria Velha, R. da Primavera n. 28
Coutada Velha, 2130-1010 Benavente, Portugal
E-mail: egbeesinyoruba@gmail.com

Recebido de Egbomy Conceição Reis
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quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Empresa é condenada em R$ 5 milhões por trabalho escravo

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Empresa é condenada em R$ 5 milhões por prática de trabalho escravo
19.08.2010 - 11h04

Por unanimidade, a Primeira Turma do Tribunal Superior do Trabalho rejeitou (não conheceu) recurso de revista da Construtora Lima Araújo Ltda, proprietária das fazendas Estrela de Alagoas e Estrela de Maceió, e manteve decisão do Tribunal Regional do Trabalho da 8ª Região (PA) que condenou a empresa ao pagamento de indenização por dano moral coletivo no valor de R$ 5 milhões por prática de trabalho escravo em suas propriedades.

O processo é uma ação civil pública do Ministério Público do Trabalho, que inicialmente pediu uma indenização de R$ 85 milhões, e é o maior que trata de trabalho escravo no País. As fazendas estão localizadas em Piçarra, Sul do Pará, e foram alvo de cinco fiscalizações de equipes do grupo móvel do Ministério do Trabalho e Emprego, entre 1998 e 2002, que geraram 55 autos de infração. Entre os cerca de 180 trabalhadores liberados nas propriedades, estavam nove adolescentes e uma criança menor de 14 anos em situação de escravidão.

Ao confirmar a condenação de R$ 5 milhões de indenização por dano moral, o ministro Vieira de Mello Filho, relator do processo na Primeira Turma do TST, destacou que “diversas fiscalizações foram realizadas pela Delegacia Regional do Trabalho no âmbito das empresas reclamadas e, em todas elas, foi constatada a existência de trabalhadores em condições análogas à de escravo”.

Entre as inúmeras infrações cometidas pela empresa, de acordo com o processo, estão:
  • não fornecer água potável;
  • manter empregados em condições subumanas e precárias de alojamento, em barracos de lona e
  • sem instalações sanitárias;
  • não fornecimento de materiais de primeiros socorros;
  • manter empregado com idade inferior a quatorze anos;
  • xistência de trabalhadores doentes sem assistência médica;
  • limitação da liberdade para dispor de salários;
  • ausência de normas básicas de segurança e higiene;
  • não efetuar o pagamento dos salários até o quinto dia útil do mês;
  • eixar de conceder o descanso semanal remunerado de 24 horas consecutivas;
  • e venda de equipamentos de proteção individual.

O ministro observou que as Fazendas são reincidentes na prática de manter trabalhadores em condições análogas à de escravo, visto que tais empresas já foram parte em duas outras ações coletivas e foram condenadas ao pagamento de indenização moral coletiva de R$ 30.000,00”. Assim, a indenização de R$ 5 milhões, “é proporcional à reiterada violação perpetrada, dentro da razoabilidade e adequada às peculiaridades das partes e do caso concreto, devendo ser mantida por esta Corte Superior. Para o relator, o comportamento da empresa é “absolutamente reprovável, atingindo e afrontando diretamente a dignidade e a honra objetiva e subjetiva dos empregados sujeitos a tais condições degradantes de trabalho”.

O julgamento começou no TST no dia 4 deste mês (agosto 2010), na Primeira Turma, e foi suspenso devido ao pedido de vista do ministro Walmir Oliveira da Costa. Em seu voto, o ministro foi contrário ao pedido da empresa de redução do valor da condenação. Ele destacou que em ação anterior, a empresa foi condenada em R$ 30 mil, mas o valor não foi suficiente para inibir a sua reincidência. “Os R$ 5 milhões da indenização imposta pelo TRT do Pará estão dentro da razoabilidade e proporcionalidade, a fim de coibir a conduta ilícita e reiterada”.

Inicialmente, a Construtora Lima Araújo Ltda. foi condenada pelo juiz de primeiro grau a pagar uma indenização de R$ 3 milhões. O Ministério Público recorreu e o valor foi alterado para R$ 5 milhões pelo TRT do Pará, valor este mantido agora pela Primeira Turma do TST.

A sala de sessão de julgamento da Primeira Turma estava lotada, com a presença de jornalistas de vários veículos de comunicação. O ministro Lelio Bentes Corrêa, que presidiu a sessão, ao proferir seu voto, destacou a importância do julgamento tendo em vista que o trabalho escravo é na verdade um crime contra a humanidade, “equivalente à tortura e ao genocídio.”

Fonte: TST

Extraído de Lion & Advogados Associados

[Negrito e marcadores nossos.]



quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Gravidez no aviso-prévio dá direito à estabilidade

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Gravidez durante aviso-prévio dá direito à estabilidade de gestante
17.08.2010


Por entender que o aviso-prévio indenizado faz parte do contrato de trabalho, inclusive para a incidência da estabilidade no emprego, uma ex-funcionária gestante consegue direito a verbas trabalhistas da estabilidade provisória estabelecida na Constituição. A decisão foi da Sexta Turma do Tribunal Superior do Trabalho que deu provimento a recurso de revista da trabalhadora, cuja gestação ocorrera no período do aviso-prévio.

No fim do contrato de trabalho, a ex-funcionária comprovou o início da concepção dentro do período do aviso-prévio. O Tribunal Regional da 5ª Região (BA) negou o pedido de estabilidade, argumentando que o aviso não integra o contrato de trabalho, de modo que as vantagens surgidas naquele momento estariam restritas a verbas relacionadas antes do requisito, conforme interpretação dada na primeira parte da Súmula nº 371 do TST.

Diante disso, a trabalhadora interpôs recurso de revista ao TST. O relator do processo na Sexta Turma, ministro Maurício Godinho Delgado, deu razão à ex-funcionária. Segundo o ministro, o dispositivo constitucional que vedou a dispensa arbitrária de empregada gestante, desde a confirmação da gravidez até cinco meses após o parto (artigo 10, II, “b”), buscou garantir o emprego contra a dispensa injusta e discriminatória, além de assegurar o bem-estar do bebê.

O relator destacou que o período de aviso-prévio integra o contrato de trabalho para todos os efeitos, inclusive para a incidência da estabilidade no emprego. “O aviso não extingue o contrato, mas apenas firma o prazo para o término”.

Maurício Godinho ressaltou ainda que entendimento semelhante foi confirmado por maioria da SDI-1, no julgamento do processo E-ED-RR- 249100-26.2007.5.12.0004, da relatoria do ministro Horácio de Senna Pires. Na sessão decidiu-se que a concessão da estabilidade da gestante relaciona-se à dignidade da pessoa humana e do bem-estar do nascituro, de modo que direitos fundamentais previstos na Constituição, como a proteção à maternidade e à infância (artigos 6º e 7º, XVIII), à família (artigo 226), à criança e ao adolescente (artigo 227) não poderiam ser restringidos por interpretação da jurisprudência.

Com esses fundamentos, a maioria da Sexta Turma – vencido o ministro Fernando Eizo Ono – deu provimento ao recurso de revista da ex-funcionária e condenou a empresa ao pagamento dos salários e demais direitos correspondentes entre a data da despedida e o final do período de estabilidade de gestante.

RR-103140-30.2003.5.02.0013

Fonte: TST

Extraído de Lion & Advogados Associados

Para saber mais:
Servidora exonerada grávida deve receber indenização
08.09.2010 - 11h39
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terça-feira, 10 de agosto de 2010

Lei RJ garante Preservação e Tombamento do Patrimônio Cultural de Origem Africana

Lei 2471/95 - Lei Nº 2471, de 06 de dezembro de 1995 do Rio de janeiro

  • Essa lei foi criada pelo Marcelo Dias no seu mandato de Deputado Estadual, e foi promulgada pelo Deputado Luiz Correa da Rocha, que naquela ocasião era governador substituto.

Dispõe sobre a Preservação e o Tombamento do Patrimônio Cultural de Origem Africana no Estado do Rio De Janeiro.

O Governador do Estado do Rio de Janeiro,
Faço saber que a Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

Art. 1º - O Estado do Rio de Janeiro deverá preservar permanentemente o patrimônio cultural de origem africana.

Art. 2º - Constituem patrimônio cultural do Estado do Rio de Janeiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória de origem africana, formadora da sociedade fluminense, nos quais se incluem:

  • I - as formas de expressão;
  • II - os modos de criar, fazer e viver;
  • III - as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artísticas e culturais; e
  • IV - os conjuntos urbanos e sítios de valores históricos, paisagístico, arqueológico, ecológico e científico.
Art. 3º - Ficam tombados os documentos, as obras, os objetos e os sítios detentores de reminiscências históricas dos antigos quilombos e antigos terreiros de candomblé.

Art. 4º - A preservação do patrimônio cultural de origem africana realizar-se-á por meio de:

  • I - Levantamento, inventário, catálogo, registro, recolhimento e restauração das obras dos monumentos, dos objetos e de outros bens de valor histórico, artístico e cultural de origem africana;
  • II - Reparo e proteção de documentos;
  • III - Desapropriação das áreas reconhecidamente de interesse histórico, científico, paisagístico e cultural;
  • IV - Incentivo a doação de documentos particulares e manutenção daqueles que permanecem com os mesmos, desde que seja permitida a visitação e pesquisa.
  • V - Impedimento à evasão, à destruição e à descaracterizaçã o de obras de arte e de outros bens de valor histórico e artístico.

Parágrafo único - Os documentos a que se refere esta Lei são os cartográficos, os fotográficos, os mapas, as certidões, os desenhos, os títulos e outros.

Art. 5º - O Estado deverá dispor de recursos técnicos e financeiros para o levantamento do inventário que constitui o patrimônio cultural de origem africana.

Parágrafo único - O Poder Executivo poderá promover convênios e contratos com instituições de estudo e pesquisa nacionais e estrangeiras, exceto com aqueles países que mantiverem política oficial de discriminação e segregação racial.

Art. 6º - Esta Lei entrará em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário.

Rio de Janeiro, 06 de dezembro de 1995.

LUIZ PAULO CORRÊA DA ROCHA
Governador em exercício
_____

Projeto de Lei nº 1385-A/93
Autoria MARCELO DIAS
Data de publicação: 12/07/1995

Assunto:
Convênio, Artes, Cultura, Tombamento, Discriminação, Doação
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quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Carta do Rio de Janeiro 2010

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A Carta do Rio de Janeiro 2010 é reivindicação, conforme adiante, que está sendo entregue a candidatos/as a cargos executivos (Eleições 2010), pelo Babalorixá Renato d´Obaluaiê, também Presidente da IRMAFRO - Irmandade de Cultura e Religiões Afro-Brasileira, para que se comprometam com a realidade da população negra, conforme vivido, sentido e orientado por Yalorixás e Babalorixás.

Os terreiros das Casas de Religiões de Matrizes Africanas são locais de acolhida, proteção e conforto, sendo lugar de confiança daqueles/as que para ali acorrem na busca de respostas para a auto-estima, a dignidade e a fé.

É com a sabedoria da dedicação, do estudo e da iluminação ancestral que Yalorixás e Babalorixás colocam o conhecimento da realidade como parâmetro fundamental a ser observado por todos/as aqueles/as que se propõem a "governar", sem deixar de estarem conscientes de que...

“Já ilé ẹ̀ kí mbá ẹ kọ́ ọ”; ìtẹ́ èèkàn kan ní ńfúnni." (*)
"Destelhe sua casa e eu vou ajudar você a recolocar as telhas"
(geralmente quem ofereceu ajuda dá apenas uma única telha)
"Quem confia na promessa de ajuda de alguém
está sempre correndo risco.
"

Carta do Rio de Janeiro 2010

Ações Afirmativas para a População Negra,
emanadas das Casas de Axé


Diante de nossos Ancestrais que chegaram às terras do Brasil por uma das principais entradas, o Porto do Rio de Janeiro, na condição de escravizados; e em nome desses [incluindo as “pelo menos 775 mil crianças africanas que foram escravizadas” e trazidas “para o Brasil nos primeiros cinqüenta anos do século 19”] chamamos as forças originárias do continente africano, considerando as várias etnias que para aqui vieram, e declaramos aos políticos candidatos/as 2010 as necessidades urgentes da implantação de Ações Afirmativas para a população negra, algumas das quais estão contidas nesta Carta do Rio de Janeiro.

O que propomos, diz respeito aos Direitos Humanos, Direitos Civis, Direitos Sociais e aos Direitos Coletivos , a saber :

Direitos Humanos

Considerando que na esfera dos “Direitos Humanos”, o “conceito” alcança seu ponto alto no século XVII, a partir do qual o mundo ocidental nunca mais parou de tratar do tema e de propor desdobramentos;

Considerando que a “evolução” do conceito influenciou a Revolução Francesa (como fato histórico marcante para as nações), fornecendo-lhe o lema “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”; exatamente em oposição “às injustiças sociais, à intolerância religiosa e aos privilégios do absolutismo em decadência” ;

Considerando que enquanto a Europa seguia em emancipação interna, países membros continuavam a traficar e escravizar os povos do continente africano, na direção da emancipação exclusiva e excludente;

Declaramos que hoje, nas terras do Brasil e, especialmente, no Rio de Janeiro – de onde saiu grande contingente de negros e de negras (adultos, crianças e idosos) para o trabalho escravo – o estado tem uma dívida de, pelo menos, quatro séculos de dignidade para com a população negra.

Antes e depois das reivindicações da Europa, o povo negro seguiu escravizado! Apesar de todas as teorias “científicas”, a política escravagista tem influências que seguem até os dias de hoje, como marca da exclusão e do racismo, sem garantir os direitos individuais, compreendidos como aqueles inerentes ao homem e à mulher e que devem ser respeitados por todos os Estados, como o direito à liberdade, à vida, à propriedade, à manifestação, à expressão, ao voto, entre outros .

A segregação a que foi submetida a população negra no Rio de Janeiro, erguendo, até os dias de hoje, suas moradias nas encostas dos morros ou nas periferias da “cidade grande”, gerando o que se chamou de “Grande Rio” e depois “Região Metropolitana do Rio de Janeiro” impôs, ao mesmo tempo, o tipo de “direitos humanos” que estavam possibilitados para a população negra. O direito à liberdade, à vida, à propriedade, à manifestação, à expressão, ao voto, entre outros, ficou subscrito àquela segregação que foi, algumas vezes, determinada até mesmo por de “leis” .

Em pleno século XXI, estamos sujeitos a toda sorte de injustiças sociais, temos sido alvo preferencial da intolerância religiosa e vivemos a exclusão onde privilégios podem facilmente ser identificados na população não negra, tudo sob a égide do racismo que, muitas vezes, se torna institucional!

Depois de o Movimento Negro ter desmascarado o “mito da democracia racial” e a “farsa da abolição de 1888”, atualmente, o racismo e a discriminação propõem a “meritocracia” e “miscigenação” exatamente como a velha crença de um “direito natural” anterior (e superior) às leis escritas; ou marcada pelo absolutismo feudal, onde "toda autoridade emanava de um Deus"! (Carmo, Suzana: 2004. Cf. nota 5)

  • Faz-se necessário garantir a liberdade, a vida, a propriedade, a manifestação, a expressão, o voto, com a implementação de políticas públicas que garantam à população negra condições que não sejam ideais, mas concretas; a partir de uma análise sem preconceito, sem discriminação. Essas políticas dizem respeito ao Trabalho-emprego; à Saúde; à Habitação, à Educação, ao Lazer, à Cultura, ao Transporte, à Cidade, às Crianças e à Juventude, aos Idosos, às Mulheres, aos Homossexuais, aos Privados de Liberdade, aos Deficientes e a todos os aspectos e em que se insere a pessoa humana e a coletividade.

O Racismo Institucional tem negado ao povo negro os direitos básicos daquilo que se denomina “direitos de primeira geração”! E, por irônico que possa parecer, a teoria já cogita tratar “direitos” em nível de uma quinta geração!


Todo o documento Carta do Rio de Janeiro, com 13 páginas, pode ser acessado AQUI.

(*) Provérbio traduzido e interpretado para a língua inglêsa pelo Professor Doutor Oyekan Owomoyela, Professor de Literatura Africana, na Universidade de Nebraska-Lincoln (NE-USA). Traduzido e interpretado para o português por Ana Felippe.

O documento constante da postagem Monumento à Ancestralidade Negra também foi entregue pelo Babalorixá Pai Renato d´Obaluaiê

Monumento à Ancestralidade Negra

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No primeiro dia do mês de agosto, foi entregue ao Governador Sérgio Cabral e ao Presidente da ALERJ, Deputado Jorge Piciane, o documento abaixo-assinado que requer a construção de um

“Monumento à Ancestralidade Negra”
e o
Memorial do Conhecimento, da Cultura,
da Filosofia e dos Valores da Diáspora Africana

“Memorial dos Saberes Milenares da Diáspora Africana”


O documento, que ainda será entregue a outras autoridades que deverão se comprometer com a necessidade, contém as páginas de assinaturas coletadas de modo real (próprio punho) e virtual (formulário na internet), além do texto do ABAIXO-ASSINADO, conforme divulgado na página do formulário virtual e apresentado aos/às assinantes. O texto é como segue:

O mito da democracia racial, cunhado para fazer com que se esquecesse dos males da escravidão e para camuflar o racismo, a cada vez que o revidamos, adquire nova roupagem na tentativa de novos argumentos.

Temos permanecido na luta (histórica) do povo negro e conquistamos avanços com a constituição de organizações, entidades e mídias étnicas – identificando, sempre e toda vez, a farsa de uma abolição que se mostrou indigna desde o dia 14 de maio de 1888.

Como é da vida de mais de 50% da população brasileira (negra) e do conhecimento dos demais, além de toda a exclusão real e simbólica que é aplicada ao povo negro, o conceito de “raça” que serve para excluir a população fundadora deste país é o mesmo que serve para negar as ações afirmativas, o sistema de cotas no ensino superior, nos concursos públicos, a delonga na aplicação da Lei 10.639/2003. (1)

O mito da democracia racial e o mito da mestiçagem só fizeram crescer a política de extermínio e usurpação!

É verdade que temos avanços! Mas pelos anos da diáspora africana no Brasil; pelo tempo decorrido da abolição; por tudo o que nos foi negado todo o tempo; podemos afirmar que os avanços são “micro ações afirmativas”; “micro conquistas”; diante de toda a contribuição de conhecimento, para além do saber cultural, que foi e continua sendo plantado nessas terras do Brasil.

Todo povo precisa de referências! E não interessa ao povo negro esquecer o período da escravidão! Interessa analisá-lo pelo olhar de quem viveu e de quem sofre até os dias de hoje suas conseqüências. Foi através dos portos do Brasil que nossos ancestrais chegaram para o trabalho forçado. E o porto do Rio de Janeiro tem significado ímpar nesse cenário histórico. Quando foi criada a Capitania Real de São Sebastião do Rio de Janeiro (1562), a cidade passou a ser a base política da coroa alcançando “prosperidade econômica”, num Rio colonial de natureza mercantil urbana, que durante a fase áurea da mineração e do café, tornou-se o maior porto receptor de escravizados!

A proposta mercantil da cidade nunca terminou! Hoje, em 2010, por força de polícias de governo, da Copa do Mundo de 2014, dos Jogos Olímpicos de 2016, a zona portuária conta com um Projeto de Revitalização. Conforme palavras do Prefeito Eduardo Paes, “Revitalizar a Zona Portuária é fundamental para que a cidade não só recupere um patrimônio histórico fantástico, mas também a sua identidade, como a região onde começou o Rio de Janeiro.”(2)

É pela mesma razão, senhor Prefeito, que se faz necessária e urgente a colocação de um “Monumento à ancestralidade negra”, bem como a criação de um espaço para o “Memorial dos Saberes Milenares da Diáspora Africana”, no Rio de Janeiro e no Brasil. A identidade da Zona Portuária do Rio de Janeiro é a da ancestralidade das etnias africanas que para aqui foram trazidas.

Por reconhecer como verdadeira a necessidade do resgate, da valorização e do conhecimento da realidade do povo negro nas terras do Brasil, estou de acordo com o teor deste abaixo-assinado para que sejam erguidos na Zona Portuária (junto com as obras de Revitalização) um “Monumento à ancestralidade negra” e o “Memorial dos Saberes Milenares da Diáspora Africana” e assino este manifesto.

Iniciativa

Abdias Nascimento - Deputado federal (1983 – 1987); Senador da República (1991, 1996 - 1999)
Ilé Omiojúàró, Ìyálòrìsà Beata de Iyemonjá - Primeira Ìyálòrìsà a receber o prêmio Bertha Lutz (Senado Federal)
• Abgail Paschoa Alves de Souza – Presidente do Instituto de Pesquisas das Culturas Negras (1982-1984)
• Carlos Alberto de Oliveira – Caó – Deputado Federal e Constituinte
Memorial Lélia Gonzalez
IPCN - Instituto de Pesquisas das Culturas Negras
• Elisa Larkin Nascimento
IPEAFRO - Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros
• Maria Alice Santos - Presidente do Instituto de Pesquisa das Culturas Negras (2007 - )
• Associação Cultural Embaixada das Caricatas - ACEC

Apoio

Deputado Federal Carlos Santana
Presidente da Frente Parlamentar em Defesa da Igualdade Racial

(1) que modifica a LDB 9. 394/96, tornando obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-. Brasileira nos estabelecimentos de ensino.

(2) Prefeitura dá a largada na revitalização da zona portuaria do Rio

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Censo 2010: Sou negro e sou de Axé!

Censo 2010: Sou negro e sou de Axé!

por Carlos Santana
Deputado Federal – PT-RJ
Presidente da Frente Parlamentar da Igualdade Racial

No próximo mês de agosto, a população brasileira vai participar do censo. É indiscutível o valor das informações coletadas para a definição de políticas públicas.

Foi em 1872 que, pela primeira vez, a população foi compreendida oficialmente em termos raciais. Tratava-se de conhecer uma população de ex-escravizados que começava a superar o número dos ainda escravizados. Esta diferença era possível na medida em que a instituição escravista tinha perdido a legitimidade pela ação de grupos abolicionistas ou mesmo em consequência da abolição do tráfico (em 1850) ou das leis posteriores que prometiam uma gradual abolição.

O Movimento Negro, nos anos 1970, enfrentou a falácia da “democracia racial”, entendendo que o quesito “cor” era determinante do lugar social da população. Esse conhecimento, discutido por militantes e pensadores das ciências humanas e sociais, levou a uma campanha para o censo de 1991: “Não deixe sua cor passar em branco!”.

Além da invisibilidade da população negra – pela falácia da “democracia racial” – o quesito respondido apenas no Questionário Amostra, tangenciava uma população já impregnada pelo não lugar de ser negro: o lugar de 2ª classe!

A campanha cobriu o censo de 1991 e foi repetida em 2000, com o objetivo de sensibilizar os negros e seus descendentes para assumirem sua identidade histórica insistentemente negada. A campanha também era um alerta para a manipulação da identidade étnico-racial dos negros brasileiros em virtude de uma miscigenação que se constitui num instrumento eficaz de embranquecimento.

Neste censo 2010, o quesito “cor” passa ao Questionário Básico, cobrindo toda a população recenseada. Mas ainda há um longo caminho de superação do racismo para que todos e todas respondam pela dignidade e pelo reforço da auto-estima de pertencerem a um grupo étnico que só tem feito contribuir para o desenvolvimento deste País.

A proposta do IBGE de obter a “fotografia” mais nítida possível do Brasil, ainda está longe de ser alcançada!

Após 122 anos de uma abolição não conclusa, a luta do povo negro não termina! Para este ano, novamente o Movimento Negro está em campanha, em nível nacional! Agora, é para que todos os adeptos das Religiões de Matrizes Africanas respondam diretamente: “Quem é de Axé diz que é!” (*)

Tanto para “cor ou raça”, quanto para “religião ou culto”, a população negra e seus descendentes estão conscientes de que suas palavras precisam ser firmes e que devem estar atentos para que a anotação seja feita sem qualquer margem de erro.

Não temos dúvida de que a resistência em tratar de “raça” e em tudo o que a discussão implica – como políticas de reparações, com fundo para superação do racismo histórico – é a mesma que teremos de enfrentar no tratamento das Religiões de Matrizes Africanas.

Não dissimular a declaração de adepto das religiões de Axé, trazidas e preservadas como memória ancestral por aqueles e aquelas que resistiram à travessia e morte nos porões dos navios tumbeiros, é dignificar a humanidade que por princípio e necessidade é diversa e assim deve permanecer.

As evidências de que a humanidade surgiu no continente africano são cada vez maiores e com rigor científico sempre mais acurado. Mas o conceito de raça só perderá o sentido quando repararmos o estrago que o uso histórico do conceito fez a cidadãos e cidadãs que hoje são mais de 50% da população. Não sendo assim, qualquer discussão conceitual será apenas a má retórica que tenta persuadir para continuar reinando.

Por isso:
  • Não vamos deixar nossa cor passar em branco!
  • E vamos dizer que somos de Axé!
  • “Quem é de Axé diz que é!”

(*) Iniciativa do Coletivo de Entidades Negras (CEN), com apoio irrestrito de Instituições de Religiões de Matrizes Africanas e do MN.


Versão resumida de texto originalmente publicado em Amai-vos.
Versão original no Blog do Coletivo de Entidades Negras - CEN
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