quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Monumento à Ancestralidade Negra

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No primeiro dia do mês de agosto, foi entregue ao Governador Sérgio Cabral e ao Presidente da ALERJ, Deputado Jorge Piciane, o documento abaixo-assinado que requer a construção de um

“Monumento à Ancestralidade Negra”
e o
Memorial do Conhecimento, da Cultura,
da Filosofia e dos Valores da Diáspora Africana

“Memorial dos Saberes Milenares da Diáspora Africana”


O documento, que ainda será entregue a outras autoridades que deverão se comprometer com a necessidade, contém as páginas de assinaturas coletadas de modo real (próprio punho) e virtual (formulário na internet), além do texto do ABAIXO-ASSINADO, conforme divulgado na página do formulário virtual e apresentado aos/às assinantes. O texto é como segue:

O mito da democracia racial, cunhado para fazer com que se esquecesse dos males da escravidão e para camuflar o racismo, a cada vez que o revidamos, adquire nova roupagem na tentativa de novos argumentos.

Temos permanecido na luta (histórica) do povo negro e conquistamos avanços com a constituição de organizações, entidades e mídias étnicas – identificando, sempre e toda vez, a farsa de uma abolição que se mostrou indigna desde o dia 14 de maio de 1888.

Como é da vida de mais de 50% da população brasileira (negra) e do conhecimento dos demais, além de toda a exclusão real e simbólica que é aplicada ao povo negro, o conceito de “raça” que serve para excluir a população fundadora deste país é o mesmo que serve para negar as ações afirmativas, o sistema de cotas no ensino superior, nos concursos públicos, a delonga na aplicação da Lei 10.639/2003. (1)

O mito da democracia racial e o mito da mestiçagem só fizeram crescer a política de extermínio e usurpação!

É verdade que temos avanços! Mas pelos anos da diáspora africana no Brasil; pelo tempo decorrido da abolição; por tudo o que nos foi negado todo o tempo; podemos afirmar que os avanços são “micro ações afirmativas”; “micro conquistas”; diante de toda a contribuição de conhecimento, para além do saber cultural, que foi e continua sendo plantado nessas terras do Brasil.

Todo povo precisa de referências! E não interessa ao povo negro esquecer o período da escravidão! Interessa analisá-lo pelo olhar de quem viveu e de quem sofre até os dias de hoje suas conseqüências. Foi através dos portos do Brasil que nossos ancestrais chegaram para o trabalho forçado. E o porto do Rio de Janeiro tem significado ímpar nesse cenário histórico. Quando foi criada a Capitania Real de São Sebastião do Rio de Janeiro (1562), a cidade passou a ser a base política da coroa alcançando “prosperidade econômica”, num Rio colonial de natureza mercantil urbana, que durante a fase áurea da mineração e do café, tornou-se o maior porto receptor de escravizados!

A proposta mercantil da cidade nunca terminou! Hoje, em 2010, por força de polícias de governo, da Copa do Mundo de 2014, dos Jogos Olímpicos de 2016, a zona portuária conta com um Projeto de Revitalização. Conforme palavras do Prefeito Eduardo Paes, “Revitalizar a Zona Portuária é fundamental para que a cidade não só recupere um patrimônio histórico fantástico, mas também a sua identidade, como a região onde começou o Rio de Janeiro.”(2)

É pela mesma razão, senhor Prefeito, que se faz necessária e urgente a colocação de um “Monumento à ancestralidade negra”, bem como a criação de um espaço para o “Memorial dos Saberes Milenares da Diáspora Africana”, no Rio de Janeiro e no Brasil. A identidade da Zona Portuária do Rio de Janeiro é a da ancestralidade das etnias africanas que para aqui foram trazidas.

Por reconhecer como verdadeira a necessidade do resgate, da valorização e do conhecimento da realidade do povo negro nas terras do Brasil, estou de acordo com o teor deste abaixo-assinado para que sejam erguidos na Zona Portuária (junto com as obras de Revitalização) um “Monumento à ancestralidade negra” e o “Memorial dos Saberes Milenares da Diáspora Africana” e assino este manifesto.

Iniciativa

Abdias Nascimento - Deputado federal (1983 – 1987); Senador da República (1991, 1996 - 1999)
Ilé Omiojúàró, Ìyálòrìsà Beata de Iyemonjá - Primeira Ìyálòrìsà a receber o prêmio Bertha Lutz (Senado Federal)
• Abgail Paschoa Alves de Souza – Presidente do Instituto de Pesquisas das Culturas Negras (1982-1984)
• Carlos Alberto de Oliveira – Caó – Deputado Federal e Constituinte
Memorial Lélia Gonzalez
IPCN - Instituto de Pesquisas das Culturas Negras
• Elisa Larkin Nascimento
IPEAFRO - Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros
• Maria Alice Santos - Presidente do Instituto de Pesquisa das Culturas Negras (2007 - )
• Associação Cultural Embaixada das Caricatas - ACEC

Apoio

Deputado Federal Carlos Santana
Presidente da Frente Parlamentar em Defesa da Igualdade Racial

(1) que modifica a LDB 9. 394/96, tornando obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-. Brasileira nos estabelecimentos de ensino.

(2) Prefeitura dá a largada na revitalização da zona portuaria do Rio

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