quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Carta do Rio de Janeiro 2010

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A Carta do Rio de Janeiro 2010 é reivindicação, conforme adiante, que está sendo entregue a candidatos/as a cargos executivos (Eleições 2010), pelo Babalorixá Renato d´Obaluaiê, também Presidente da IRMAFRO - Irmandade de Cultura e Religiões Afro-Brasileira, para que se comprometam com a realidade da população negra, conforme vivido, sentido e orientado por Yalorixás e Babalorixás.

Os terreiros das Casas de Religiões de Matrizes Africanas são locais de acolhida, proteção e conforto, sendo lugar de confiança daqueles/as que para ali acorrem na busca de respostas para a auto-estima, a dignidade e a fé.

É com a sabedoria da dedicação, do estudo e da iluminação ancestral que Yalorixás e Babalorixás colocam o conhecimento da realidade como parâmetro fundamental a ser observado por todos/as aqueles/as que se propõem a "governar", sem deixar de estarem conscientes de que...

“Já ilé ẹ̀ kí mbá ẹ kọ́ ọ”; ìtẹ́ èèkàn kan ní ńfúnni." (*)
"Destelhe sua casa e eu vou ajudar você a recolocar as telhas"
(geralmente quem ofereceu ajuda dá apenas uma única telha)
"Quem confia na promessa de ajuda de alguém
está sempre correndo risco.
"

Carta do Rio de Janeiro 2010

Ações Afirmativas para a População Negra,
emanadas das Casas de Axé


Diante de nossos Ancestrais que chegaram às terras do Brasil por uma das principais entradas, o Porto do Rio de Janeiro, na condição de escravizados; e em nome desses [incluindo as “pelo menos 775 mil crianças africanas que foram escravizadas” e trazidas “para o Brasil nos primeiros cinqüenta anos do século 19”] chamamos as forças originárias do continente africano, considerando as várias etnias que para aqui vieram, e declaramos aos políticos candidatos/as 2010 as necessidades urgentes da implantação de Ações Afirmativas para a população negra, algumas das quais estão contidas nesta Carta do Rio de Janeiro.

O que propomos, diz respeito aos Direitos Humanos, Direitos Civis, Direitos Sociais e aos Direitos Coletivos , a saber :

Direitos Humanos

Considerando que na esfera dos “Direitos Humanos”, o “conceito” alcança seu ponto alto no século XVII, a partir do qual o mundo ocidental nunca mais parou de tratar do tema e de propor desdobramentos;

Considerando que a “evolução” do conceito influenciou a Revolução Francesa (como fato histórico marcante para as nações), fornecendo-lhe o lema “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”; exatamente em oposição “às injustiças sociais, à intolerância religiosa e aos privilégios do absolutismo em decadência” ;

Considerando que enquanto a Europa seguia em emancipação interna, países membros continuavam a traficar e escravizar os povos do continente africano, na direção da emancipação exclusiva e excludente;

Declaramos que hoje, nas terras do Brasil e, especialmente, no Rio de Janeiro – de onde saiu grande contingente de negros e de negras (adultos, crianças e idosos) para o trabalho escravo – o estado tem uma dívida de, pelo menos, quatro séculos de dignidade para com a população negra.

Antes e depois das reivindicações da Europa, o povo negro seguiu escravizado! Apesar de todas as teorias “científicas”, a política escravagista tem influências que seguem até os dias de hoje, como marca da exclusão e do racismo, sem garantir os direitos individuais, compreendidos como aqueles inerentes ao homem e à mulher e que devem ser respeitados por todos os Estados, como o direito à liberdade, à vida, à propriedade, à manifestação, à expressão, ao voto, entre outros .

A segregação a que foi submetida a população negra no Rio de Janeiro, erguendo, até os dias de hoje, suas moradias nas encostas dos morros ou nas periferias da “cidade grande”, gerando o que se chamou de “Grande Rio” e depois “Região Metropolitana do Rio de Janeiro” impôs, ao mesmo tempo, o tipo de “direitos humanos” que estavam possibilitados para a população negra. O direito à liberdade, à vida, à propriedade, à manifestação, à expressão, ao voto, entre outros, ficou subscrito àquela segregação que foi, algumas vezes, determinada até mesmo por de “leis” .

Em pleno século XXI, estamos sujeitos a toda sorte de injustiças sociais, temos sido alvo preferencial da intolerância religiosa e vivemos a exclusão onde privilégios podem facilmente ser identificados na população não negra, tudo sob a égide do racismo que, muitas vezes, se torna institucional!

Depois de o Movimento Negro ter desmascarado o “mito da democracia racial” e a “farsa da abolição de 1888”, atualmente, o racismo e a discriminação propõem a “meritocracia” e “miscigenação” exatamente como a velha crença de um “direito natural” anterior (e superior) às leis escritas; ou marcada pelo absolutismo feudal, onde "toda autoridade emanava de um Deus"! (Carmo, Suzana: 2004. Cf. nota 5)

  • Faz-se necessário garantir a liberdade, a vida, a propriedade, a manifestação, a expressão, o voto, com a implementação de políticas públicas que garantam à população negra condições que não sejam ideais, mas concretas; a partir de uma análise sem preconceito, sem discriminação. Essas políticas dizem respeito ao Trabalho-emprego; à Saúde; à Habitação, à Educação, ao Lazer, à Cultura, ao Transporte, à Cidade, às Crianças e à Juventude, aos Idosos, às Mulheres, aos Homossexuais, aos Privados de Liberdade, aos Deficientes e a todos os aspectos e em que se insere a pessoa humana e a coletividade.

O Racismo Institucional tem negado ao povo negro os direitos básicos daquilo que se denomina “direitos de primeira geração”! E, por irônico que possa parecer, a teoria já cogita tratar “direitos” em nível de uma quinta geração!


Todo o documento Carta do Rio de Janeiro, com 13 páginas, pode ser acessado AQUI.

(*) Provérbio traduzido e interpretado para a língua inglêsa pelo Professor Doutor Oyekan Owomoyela, Professor de Literatura Africana, na Universidade de Nebraska-Lincoln (NE-USA). Traduzido e interpretado para o português por Ana Felippe.

O documento constante da postagem Monumento à Ancestralidade Negra também foi entregue pelo Babalorixá Pai Renato d´Obaluaiê

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