Censo 2010: Sou negro e sou de Axé!
por Carlos Santana
Deputado Federal – PT-RJ
Presidente da Frente Parlamentar da Igualdade Racial
No próximo mês de agosto, a população brasileira vai participar do censo. É indiscutível o valor das informações coletadas para a definição de políticas públicas.
Foi em 1872 que, pela primeira vez, a população foi compreendida oficialmente em termos raciais. Tratava-se de conhecer uma população de ex-escravizados que começava a superar o número dos ainda escravizados. Esta diferença era possível na medida em que a instituição escravista tinha perdido a legitimidade pela ação de grupos abolicionistas ou mesmo em consequência da abolição do tráfico (em 1850) ou das leis posteriores que prometiam uma gradual abolição.
O Movimento Negro, nos anos 1970, enfrentou a falácia da “democracia racial”, entendendo que o quesito “cor” era determinante do lugar social da população. Esse conhecimento, discutido por militantes e pensadores das ciências humanas e sociais, levou a uma campanha para o censo de 1991: “Não deixe sua cor passar em branco!”.
Além da invisibilidade da população negra – pela falácia da “democracia racial” – o quesito respondido apenas no Questionário Amostra, tangenciava uma população já impregnada pelo não lugar de ser negro: o lugar de 2ª classe!
A campanha cobriu o censo de 1991 e foi repetida em 2000, com o objetivo de sensibilizar os negros e seus descendentes para assumirem sua identidade histórica insistentemente negada. A campanha também era um alerta para a manipulação da identidade étnico-racial dos negros brasileiros em virtude de uma miscigenação que se constitui num instrumento eficaz de embranquecimento.
Neste censo 2010, o quesito “cor” passa ao Questionário Básico, cobrindo toda a população recenseada. Mas ainda há um longo caminho de superação do racismo para que todos e todas respondam pela dignidade e pelo reforço da auto-estima de pertencerem a um grupo étnico que só tem feito contribuir para o desenvolvimento deste País.
A proposta do IBGE de obter a “fotografia” mais nítida possível do Brasil, ainda está longe de ser alcançada!
Após 122 anos de uma abolição não conclusa, a luta do povo negro não termina! Para este ano, novamente o Movimento Negro está em campanha, em nível nacional! Agora, é para que todos os adeptos das Religiões de Matrizes Africanas respondam diretamente: “Quem é de Axé diz que é!” (*)
Tanto para “cor ou raça”, quanto para “religião ou culto”, a população negra e seus descendentes estão conscientes de que suas palavras precisam ser firmes e que devem estar atentos para que a anotação seja feita sem qualquer margem de erro.
Não temos dúvida de que a resistência em tratar de “raça” e em tudo o que a discussão implica – como políticas de reparações, com fundo para superação do racismo histórico – é a mesma que teremos de enfrentar no tratamento das Religiões de Matrizes Africanas.
Não dissimular a declaração de adepto das religiões de Axé, trazidas e preservadas como memória ancestral por aqueles e aquelas que resistiram à travessia e morte nos porões dos navios tumbeiros, é dignificar a humanidade que por princípio e necessidade é diversa e assim deve permanecer.
As evidências de que a humanidade surgiu no continente africano são cada vez maiores e com rigor científico sempre mais acurado. Mas o conceito de raça só perderá o sentido quando repararmos o estrago que o uso histórico do conceito fez a cidadãos e cidadãs que hoje são mais de 50% da população. Não sendo assim, qualquer discussão conceitual será apenas a má retórica que tenta persuadir para continuar reinando.
Por isso:
(*) Iniciativa do Coletivo de Entidades Negras (CEN), com apoio irrestrito de Instituições de Religiões de Matrizes Africanas e do MN.por Carlos Santana
Deputado Federal – PT-RJ
Presidente da Frente Parlamentar da Igualdade Racial
No próximo mês de agosto, a população brasileira vai participar do censo. É indiscutível o valor das informações coletadas para a definição de políticas públicas.
Foi em 1872 que, pela primeira vez, a população foi compreendida oficialmente em termos raciais. Tratava-se de conhecer uma população de ex-escravizados que começava a superar o número dos ainda escravizados. Esta diferença era possível na medida em que a instituição escravista tinha perdido a legitimidade pela ação de grupos abolicionistas ou mesmo em consequência da abolição do tráfico (em 1850) ou das leis posteriores que prometiam uma gradual abolição.
O Movimento Negro, nos anos 1970, enfrentou a falácia da “democracia racial”, entendendo que o quesito “cor” era determinante do lugar social da população. Esse conhecimento, discutido por militantes e pensadores das ciências humanas e sociais, levou a uma campanha para o censo de 1991: “Não deixe sua cor passar em branco!”.
Além da invisibilidade da população negra – pela falácia da “democracia racial” – o quesito respondido apenas no Questionário Amostra, tangenciava uma população já impregnada pelo não lugar de ser negro: o lugar de 2ª classe!
A campanha cobriu o censo de 1991 e foi repetida em 2000, com o objetivo de sensibilizar os negros e seus descendentes para assumirem sua identidade histórica insistentemente negada. A campanha também era um alerta para a manipulação da identidade étnico-racial dos negros brasileiros em virtude de uma miscigenação que se constitui num instrumento eficaz de embranquecimento.
Neste censo 2010, o quesito “cor” passa ao Questionário Básico, cobrindo toda a população recenseada. Mas ainda há um longo caminho de superação do racismo para que todos e todas respondam pela dignidade e pelo reforço da auto-estima de pertencerem a um grupo étnico que só tem feito contribuir para o desenvolvimento deste País.
A proposta do IBGE de obter a “fotografia” mais nítida possível do Brasil, ainda está longe de ser alcançada!
Após 122 anos de uma abolição não conclusa, a luta do povo negro não termina! Para este ano, novamente o Movimento Negro está em campanha, em nível nacional! Agora, é para que todos os adeptos das Religiões de Matrizes Africanas respondam diretamente: “Quem é de Axé diz que é!” (*)
Tanto para “cor ou raça”, quanto para “religião ou culto”, a população negra e seus descendentes estão conscientes de que suas palavras precisam ser firmes e que devem estar atentos para que a anotação seja feita sem qualquer margem de erro.
Não temos dúvida de que a resistência em tratar de “raça” e em tudo o que a discussão implica – como políticas de reparações, com fundo para superação do racismo histórico – é a mesma que teremos de enfrentar no tratamento das Religiões de Matrizes Africanas.
Não dissimular a declaração de adepto das religiões de Axé, trazidas e preservadas como memória ancestral por aqueles e aquelas que resistiram à travessia e morte nos porões dos navios tumbeiros, é dignificar a humanidade que por princípio e necessidade é diversa e assim deve permanecer.
As evidências de que a humanidade surgiu no continente africano são cada vez maiores e com rigor científico sempre mais acurado. Mas o conceito de raça só perderá o sentido quando repararmos o estrago que o uso histórico do conceito fez a cidadãos e cidadãs que hoje são mais de 50% da população. Não sendo assim, qualquer discussão conceitual será apenas a má retórica que tenta persuadir para continuar reinando.
Por isso:
- Não vamos deixar nossa cor passar em branco!
- E vamos dizer que somos de Axé!
- “Quem é de Axé diz que é!”
Versão resumida de texto originalmente publicado em Amai-vos.
Versão original no Blog do Coletivo de Entidades Negras - CEN.
A reprodução em Blogs e Listas de Interação reaforça a convicção de nossa Força pelo Axé!
Papoeira, Conversa de Capoeira
Coletivo Cultural Esperança Garcia
Prêmio Itaú Unicef Regional Salvador
Aldeia Griot
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